Graxa.im o sistema auto-organizativo
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Graxa.im o sistema auto-organizativo

08.06.2012



Sistema é um processo circular que, embora sob o aspecto energético seja aberto para o meio ambiente, sob o aspecto estrutural ou organizacional é fechado sobre si mesmo, que é estável, que se retrodetermina (feed back), se realimenta, se recompõe e se reorganiza de maneira plástica a partir do seu meio ambiente, que exerce seletividade em suas interações para com este, que em muitos casos se replica ou reproduz, que, quando afastado do seu ponto de equilíbrio, em muitos casos, engendra novas formas de organização e de comportamento, as quais se inserem num processo de evolução que é regido pela lei da seleção natural.


CIRNE-LIMA, Carlos. Causalidade e auto-organização. In: Dialética e auto-organização. ROHDEN, Luiz; CIRNE-LIMA, Carlos (org.). São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003, p. 27-28.




O Graxaim é um projeto que funciona através de processos criativos circulares, que se alteram conforme a comunicação da estética própria do Graxaim com elementos do meio ambiente (meio cultural). Sua estrutura interna, com a utilização de determinados instrumentos em detrimento de outros (violão-guitarra, por exemplo), sem elementos vocais, sem melodias românticas ou passionais, se referenciando a partir da estética do frio, do impressionismo, da milonga, do tango, do jazz, da música minimalista e da música concreta contemporânea, estruturam e organizam sua estética através dos temas que são criados e organizados conforme os mecanismos de funcionamento do Sistema Graxaim: surgem a partir de audições, de conversas e muito café preto, e principalmente através do improviso. Alguns surgem a partir de pequenos fragmentos ou riffs que um dos integrantes apresenta ou a partir de acordes ou melodias curtas que são criadas quando o Graxaim se encontra.



A partir de comunicações limitadas com o meio ambiente, uma vez que o sistema Graxaim não se abre para qualquer comunicação (não se relaciona com música brega, funk e outros gêneros...), nem como manifestações artísticas que não dialoguem com sua estética, como com a bossa nova e o samba, por exemplo.



Quando o sistema está em funcionamento, ele encontra-se fechado, não aceitando influências ou o ingresso de elementos que se relacionam com sua estética e suas comunicações-temas.



Não se trata de desrespeito ou qualquer hierarquização de gêneros ou estilos musicais, apenas se refere à seleção que o sistema realiza para cumprir sua função e confirmar a necessidade de sua existência. Se nada selecionasse, se nada diferenciasse, não existiria razão de existir.



As seleções que o sistema realiza para a manutenção da sua própria existência e da sua diferenciação funcional, ocorre a partir dos seus próprios elementos, dos seus temas anteriores, das influências musicais e artísticas que ocorrem durante sua abertura cognitiva, ou seja, tais influências entram no sistema a partir de seleções que o próprio sistema realiza, diferencia, observa e se comunica.



A forma como ocorrem as seleções são determinadas pela própria organização interna do sistema Graxaim, que possibilita a troca de informações do sistema com outros sistemas artísticos e musicais.



Um dos elementos que compõem a estética que orienta as comunicações-temas que o sistema Graxaim cria, pode ser denominado de “acidez”, conceito que sintetiza o vento, a solidão, o hard, a simplicidade, o minimalismo, o impressionismo[1], a milonga (e não a música gaúcha por si só) o tango, o rock, Hendrix, Debussy, Coltrane, Piazzolla, Vitor Ramil (e a Estética do Frio), Medeski Martin & Wood), a música espanhola, (a música contemporânea atonal, não participa como componente do cenário central, mas como pano de fundo, quase incidental), dentre outros.



Outro elemento é a simplicidade minimalista, que traz introspecção, impressões e o silêncio, dispostos em pequenos e breves blocos sonoros, geralmente divididos em duas ou três partes dos temas criados pelo sistema.



A ironia também compõe o quadro conceitual que orienta a estética que estrutura as comunicações e temas do sistema Graxaim, e está relacionada ao novo quadro científico que critica os discursos metanarrativos, os discursos românticos que têm a pretensão de dar conta e respostas sobre o mundo, sobre os sentimentos, como os discursos políticos, religiosos e até mesmo sentimentais, como as letras de música que ainda valorizam sentimentos exagerados, falaciosos que não dialogam ou são selecionados pelo sistema Graxaim.



A ironia poderá agitar o espírito moderno, dar importância ao experimental, num clima de invenção permanente, sem amarras às metanarrativas, tanto literárias como musicais.



Por outro lado, não é um sistema inteiramente rígido, pois a partir das comunicações com o ambiente, obtendo informações através de outras propostas musicais, artísticas, literárias, etc., o sistema Graxaim tem evoluído na sua trajetória, alterando significativamente muitos aspectos funcionais, organizacionais e estruturais dos temas musicais que vem desenvolvendo.



A função do sistema permanece, mas devido às comunicações com o ambiente, muitas formas, timbres e temas foram se alterando conforme os elementos e funcionamentos internos do Graxaim.



Mas qual seria o desafio do Graxaim para continuar na sua busca evolutiva? Se o Sistema Graxaim realmente for autopoiético, seu funcionamento fora do ponto de equilíbrio poderá engendrar novas formas de auto-organização, de como se comunica através dos seus temas, de quais timbres e materiais que utiliza, enfim, de como poderá operacionalmente funcionar o seu sistema a partir dos seus próprios elementos.



Por Luciano Oliveira de Amorim






[1] - Impressionismo – 2ª metade do século XIX. Designa um sistema de pintura que consiste em traduzir pura e simplesmente a impressão tal qual foi percebida materialmente. O artista impressionista é o pintor que se propõe a representar os objetos de acordo com as suas impressões pessoais, sem se preocupar com as regras geralmente estabelecidas.

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